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O Imposto Seletivo Pode Afundar a Economia do Mar no Brasil

Por Mané Ferrari – Presidente da ACATMAR (Associação Náutica Brasileira)



Há momentos em que o Brasil parece remar contra a maré da própria prosperidade. A proposta de incluir as embarcações de lazer no novo “imposto seletivo” — apelidado de imposto do pecado — é um desses casos. Idealizado para desestimular produtos que afetam a saúde ou o meio ambiente, o imposto ganha contornos injustos e equivocados quando tenta classificar o setor náutico como um privilégio elitista. É, na prática, uma penalização a um setor que gera emprego, inovação, sustentabilidade e oportunidades em larga escala.


Desmistificando o Mito: Náutica não é luxo, é trabalho


A ideia de que o barco é um bem supérfluo é ultrapassada e não se sustenta quando colocada diante da realidade brasileira. O setor náutico hoje é composto por milhares de micro, pequenas e médias empresas espalhadas de Norte a Sul do país. Estaleiros, fornecedores, prestadores de serviço, marinheiros, escolas técnicas, marinas, guinchos, turismo náutico, operadores logísticos, comércio de peças e tantos outros elos movimentam uma cadeia que emprega de forma direta e indireta centenas de milhares de brasileiros.


É um setor inclusivo. Onde antes o mar era visto apenas como subsistência por comunidades pesqueiras, hoje ele é oportunidade de futuro. O filho do pescador pode ser e é hoje um marinheiro profissional, um laminador em um estaleiro, ou um técnico de manutenção com carteira assinada — mudando histórias e gerando dignidade.


Barcos geram economia ativa e contínua


Ao contrário do que se pensa, um barco não é um bem que estaciona e para. Ele gera consumo constante: paga marina, emprega marinheiros, movimenta oficinas, precisa de combustível, peças, seguros, treinamentos, além de fomentar eventos, esportes náuticos, turismo e até a gastronomia local. O ciclo de renda que gira em torno de uma embarcação é intenso e distribuído. Tributar esse setor é, em outras palavras, cortar a circulação de riqueza em dezenas de segmentos interligados.


E quanto à sustentabilidade? Somos protagonistas.


Tentar justificar esse imposto por argumentos ambientais também revela desconhecimento. O setor náutico brasileiro é responsável por uma das maiores ações ambientais do país: o Projeto Limpeza dos Mares, que já retirou mais de 190 toneladas de lixo de praias, costões, rios e do fundo do mar. E não é opinião — é dado concreto: esse lixo não vem do setor náutico.


Além disso, muitas marinas brasileiras já conquistaram ou estão em processo de conquista do selo Bandeira Azul, uma das certificações ambientais mais exigentes do mundo. Isso mostra que desenvolvimento e sustentabilidade não são opostos. São aliados quando há profissionalismo e compromisso com o futuro.


O que o Brasil perde com esse imposto?


  1. A curto prazo: retração do consumo, aumento dos preços e insegurança no mercado.

  2. A médio prazo: queda na produção, fechamento de estaleiros e desemprego.

  3. A longo prazo: desarticulação de um setor estratégico para a economia azul e perda de relevância global.


Exemplo que inspira: a virada italiana


A Itália, que sempre teve forte ligação com o mar, entendeu a importância estratégica do setor náutico. Em 2024, a economia do mar italiana se consolidou entre as quatro maiores economias do país, lado a lado com agricultura, turismo e indústria. Investiu-se em capacitação, inovação, marinas sustentáveis, exportação e políticas públicas inteligentes. E o resultado veio: crescimento, emprego e protagonismo internacional.


Hora de virar o leme no Brasil


O setor náutico não é o problema — ele é parte da solução. É vetor de uma nova economia que respeita o ambiente, forma profissionais, gera divisas e fortalece o turismo. É parte da economia azul, reconhecida por instituições como a ONU, OCDE e União Europeia como um dos caminhos mais sustentáveis e inclusivos para o século XXI.

Tributar o barco com um selo de pecado é o mesmo que taxar o desenvolvimento, a empregabilidade e o cuidado com o mar.


A solução não é punir quem investe no Brasil real. A solução é remar juntos rumo ao futuro — com desenvolvimento, inovação e respeito à economia do mar.




The Selective Tax Could Sink Brazil’s Maritime Economy

By Mané Ferrari – President of ACATMAR (Brazilian Nautical Association)


There are times when Brazil seems to row against the tide of its own prosperity. The proposal to include leisure boats under the new "selective tax" — popularly known as the “sin tax” — is one of those cases. Originally intended to discourage consumption of products harmful to health or the environment, the tax takes on unfair and misguided contours when it seeks to classify the nautical sector as an elitist luxury. In practice, it penalizes a sector that generates jobs, innovation, sustainability, and large-scale opportunities.


Debunking the Myth: Nautical is not luxury — it’s labor


The notion that owning a boat is a superfluous luxury is outdated and doesn’t hold up against the Brazilian reality. The nautical sector today comprises thousands of micro, small and medium-sized enterprises from North to South. Shipyards, suppliers, service providers, technical schools, marinas, lifts, nautical tourism operators, logistics providers, spare parts retailers — all form a value chain that employs hundreds of thousands of Brazilians, directly and indirectly.


It is an inclusive sector. Where once the sea was viewed only as subsistence by fishing communities, today it represents a future. The fisherman's son can now become a professional sailor, a laminator in a shipyard, or a certified maintenance technician — changing lives and generating dignity.


Boats drive continuous, active economic cycles


Unlike common belief, a boat is not a good that sits idle. It generates ongoing consumption: it pays marina fees, employs crew members, moves the maintenance and parts market, requires fuel, insurance, training, and also promotes events, watersports, tourism, and even boosts local gastronomy. The income cycle surrounding a vessel is intense and widely distributed. Taxing this sector is, in other words, cutting the circulation of wealth across dozens of interconnected industries.


And in terms of sustainability? We are leading the way.


Trying to justify this tax on environmental grounds also reveals a lack of knowledge. The Brazilian nautical sector is responsible for one of the largest environmental actions in the country: the Projeto Limpeza dos Mares (Sea Cleanup Project), which has already removed more than 190 tons of waste from beaches, rocky shores, rivers, and the seabed. And this is not an opinion — it's data: that waste does not come from the nautical sector.


Furthermore, many Brazilian marinas have already achieved or are in the process of obtaining the Blue Flag certification — one of the most respected and demanding environmental certifications in the world. This proves that development and sustainability are not opposites. They are allies — when there is professionalism and a commitment to the future.


What Brazil stands to lose with this tax


  • Short-term: market uncertainty, higher final prices, reduced consumption.

  • Medium-term: production slowdown, shipyard closures, rising unemployment.

  • Long-term: the dismantling of a strategic sector for the blue economy and the loss of global competitiveness.


An inspiring case: the Italian turnaround


Italy, a country historically connected to the sea, recognized the strategic value of its nautical sector. In 2024, Italy’s blue economy became one of the four largest economic pillars in the country — alongside agriculture, tourism, and manufacturing. Through investments in training, innovation, sustainable marinas, exports, and smart public policies, the results came: growth, jobs, and international leadership.


Time to change course in Brazil


The nautical sector is not the problem — it is part of the solution. It drives a new economy that respects the environment, develops professionals, generates revenue, and strengthens tourism. It is an essential pillar of the blue economy, recognized by institutions like the UN, OECD, and European Union as one of the most sustainable and inclusive development paths for the 21st century.


To tax boats with a “sin label” is to tax development, job creation, and care for the sea.

The solution is not to punish those investing in the real Brazil. The solution is to row together toward the future — with development, innovation, and respect for the maritime economy.

 
 
 

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