Cristiana Pagni - A mulher que transforma o Mediterrâneo no centro da Economia Azul
- Redação Mundo Mar
- 28 de mai.
- 6 min de leitura
Entrevista exclusiva ao quadro “Caffè com Mané – Mundo Mar”

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No quadro de entrevistas do Caffè com Mané, o Programa Mundo Mar teve a honra de receber uma das mulheres mais influentes da Economia do Mar na Europa: Cristiana Pagni, presidente do Consorzio Tecnomar Liguria e da Italian Blue Growth (IBG), organizadora da SEAFUTURE, feira internacional que acontece na base naval de La Spezia, na Itália.
Com mais de 25 anos de atuação, Cristiana é reconhecida por unir inovação, sustentabilidade e cooperação internacional no setor marítimo. À frente de instituições estratégicas, ela promove o desenvolvimento de startups, estimula a internacionalização de pequenas e médias empresas e conecta ciência, indústria e governo para fazer a Economia Azul acontecer.
Caffè com Mané: Começou a contagem regressiva para a SEAFUTURE 2025… O que podemos antecipar? Quais são as expectativas?
Cristiana Pagni: A Seafuture, além de ser a única feira no Mediterrâneo realizada dentro de uma Base Naval, vem se consolidando cada vez mais como uma das principais feiras internacionais da Economia Azul na Itália — uma plataforma qualificada e qualificadora para a promoção e exposição de inovações, sistemas e tecnologias do mar.
Para a nona edição, que acontecerá de 29 de setembro a 2 de outubro de 2025 no Arsenal Militar Marítimo de La Spezia, organizada pela Italian Blue Growth em colaboração com a Marina Militare, NAD, Ministério das Infraestruturas e dos Transportes e Ministério do Interior, estão previstas 375 empresas participantes em uma área expositiva de 35.000 m², e são esperadas 140 delegações estrangeiras.
Crescem também os encontros bilaterais B2B e B2G, que devem chegar a cerca de 3.600: esse número confirma o papel estratégico do evento como uma plataforma de referência para o diálogo e a cooperação entre empresas, instituições e stakeholders internacionais.
O objetivo com o qual o evento foi concebido é oferecer às empresas uma oportunidade de crescimento, em termos de agregação, internacionalização e negócios, aproximando os grandes players (grandes empresas, armadores navais, de embarcações de recreio e marinhas militares estrangeiras) da cadeia de PMEs — pequenas e médias empresas — que desempenham um papel essencial no crescimento econômico.
As palavras-chave são: economia azul, novas tecnologias, uso dual, refit, sustentabilidade — com o envolvimento de centros de pesquisa e universidades. A Seafuture atua como catalisador e permite criar redes e uma integração eficaz entre instituições, empresas, pesquisa e grandes players.
“Se a água viesse a faltar, após poucos dias estaríamos todos mortos. Acho que isso basta para definir a importância do mar.”— Cristiana Pagni
Caffè com Mané: Como o evento evoluiu em termos de sustentabilidade no setor da economia do mar? Quais iniciativas estão sendo implementadas para promover práticas sustentáveis durante a SEAFUTURE 2025?
Cristiana Pagni: No que diz respeito à sustentabilidade, este ano temos uma novidade importante. No final de 2024, a IBG – Italian Blue Growth – conseguiu obter a certificação ISO 20121, no âmbito da organização e realização sustentável de feiras, congressos e eventos ligados à economia do mar.
A certificação permite às empresas envolvidas contar com parâmetros de referência compartilhados e unificados, demonstrar uma abordagem responsável em relação ao meio ambiente e à comunidade, gerenciar riscos e oportunidades de natureza ambiental, social e econômica, e reforçar a posição da organização dentro da comunidade.
A Seafuture será, portanto, organizada de acordo com as diretrizes da certificação — um diferencial ético importante para o evento e um belo desafio.
COLABORAÇÃO INTERNACIONAL E TRANSFORMAÇÃO REAL
“Precisamos nos conectar, olhar na mesma direção e adotar as mesmas regras. Caso contrário, não faremos progresso.”— Cristiana Pagni
Caffè com Mané: Qual será o foco das conferências e mesas-redondas desta edição? Existe um tema principal que será abordado ou áreas específicas de destaque?
Cristiana Pagni: Durante os quatro dias serão desenvolvidos temas relacionados a:
construção naval
defesa e uso dual
tecnologias verdes
segurança marítima
cibersegurança e 5G
pesquisa e desenvolvimento
inteligência artificial
sistemas de comunicação e navegação
tecnologia de defesa subaquática
tecnologia no ambiente marinho
portos inteligentes e cidades inteligentes
transição energética
Em particular, este ano, o foco principal da edição será voltado para:
“Portos inteligentes & Cidades inteligentes”
“Dimensão Subaquática e Defesa Cibernética”
“Transição Energética”
Estão previstas também visitas a bordo das embarcações e testes no mar.
Serão discutidos temas sobre o futuro da produção de energia renovável, eficiência dos sistemas existentes, criação de comunidades energéticas, modelos de economia sustentável e novos negócios para empresas e PMEs. Também será abordado o PNIEC – Plano Nacional Integrado para Energia e Clima 2021–2030.
A propósito de clima, os oceanos e a mudança climática estão intrinsecamente conectados, sendo esta uma das principais ameaças à saúde marinha. Por isso, no último dia do congresso, serão realizadas três conferências sobre os temas relacionados ao Objetivo 14 da Agenda da ONU 2030:
“Conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.”
O objetivo dessa jornada é promover o conhecimento e criar uma ação interdisciplinar entre universidades, centros de pesquisa, tomadores de decisão, stakeholders e cidadãos — partindo do princípio de que a saúde dos oceanos é determinada em terra.
Caffè com Mané: A SEAFUTURE 2025 incluirá áreas de inovação específicas como o GREEN&BLUE INNOVATION HUB e a START-UP AREA. Você pode nos contar mais sobre essas iniciativas e como elas contribuem para o desenvolvimento da economia azul?
Cristiana Pagni: O Green & Blue Innovation Hub será ampliado com um programa estruturado que abordará observação oceânica, transição energética e sustentabilidade do setor de navegação. Haverá novos focos em combustíveis alternativos, energia renovável marinha e portos resilientes.
Será relançada a modernização da pesca e aquicultura, com iniciativas de fomento ao empreendedorismo na economia azul. O Hub se confirma como polo estratégico para inovação, sustentabilidade e cooperação internacional, contribuindo significativamente para o desenvolvimento do setor.
A área Start-up representa inovação acima de tudo. A Seafuture acolhe startups inovadoras, promove editais específicos, conecta essas empresas a investidores e aceleradoras, e estimula a co-inovação e parcerias internacionais.
Ambas as áreas crescem em conteúdo e oportunidades de networking estratégico em comparação com 2023, com forte ênfase na dupla transição (digital e ecológica), inovação, digitalização e transferência tecnológica.
“Criei o SEAFUTURE com um objetivo: transformar boas ideias em ações concretas para o futuro da Economia Azul.” — Cristiana Pagni
Caffè com Mané: Olhando para o Brasil, como você vê a evolução da economia do mar no país? Você acredita que existam oportunidades de colaboração entre a SEAFUTURE e instituições brasileiras para incentivar o setor?
Cristiana Pagni: “Quando ouvi pela primeira vez a definição de ‘ouro azul’ associada ao termo mar, pensei que era verdade — com uma diferença substancial em relação ao ouro amarelo e ao ouro negro: se a água viesse a faltar, após poucos dias estaríamos todos mortos.
Acho que isso basta para definir a importância do Mar e, consequentemente, o papel estratégico da Economia Azul.
Quando comecei a trabalhar no setor, há 25 anos, eu ouvia os discursos dos políticos e empresários. Hoje, na Itália, ainda escuto os mesmos discursos sobre os mesmos problemas. Isso significa que, em 25 anos, não demos passos significativos à frente como país.
Neste setor, falta a execução, que é necessária para o crescimento econômico. Precisamos transformar microempresas em pequenas, pequenas em médias e médias em grandes — grandes players do mercado.
É fundamental criar sistemas com outros países, estabelecendo protocolos de entendimento sobre temas urgentes como as energias alternativas. Mas precisamos criar redes, olhar na mesma direção e adotar as mesmas regras. Caso contrário, não progrediremos.
"Eu criei a Seafuture com esse objetivo.”
Caffè com Mané: Você acompanhou as ações de sustentabilidade do projeto Limpeza dos Mares no Brasil, que desde 2014 já removeu mais de 190 toneladas de resíduos do mar, das praias e dos costões? Acredita que iniciativas como essa possam ser um exemplo para o mundo?
Cristiana Pagni: “Iniciativas como essa são úteis e significativas para dar um exemplo de valores, mas para resolver o problema na raiz, precisamos de uma sociedade que não polua, para que não seja necessário que alguém recolha depois. Esse é o ponto central.
É preciso atuar na educação das crianças, desde o jardim de infância, e endurecer as sanções para quem contribui com a destruição ambiental. Também deveríamos eliminar completamente o plástico e voltar a utilizar materiais como o vidro.
O problema da poluição no país se tornou inadiável. Todos, sem exceção, devem fazer parte da mudança.”
Por: Redação Mundo Mar
Edição Especial Caffè com Mané - Maio 2025
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